Capítulo 2

Iniciativas Internacionais para a Eficiência Energética

A Estratégia da união Europeia para a Energia está alicerçada na ambição de se conseguir de forma rentável uma transfor- mação fundamental do sistema energético Europeu, transitando para soluções mais sustentáveis, seguras e competitivas no fornecimento de energia a preços acessíveis aos consumidores. A investigação e inovação (I&I) constituem um pilar crucial para cumprir esse objetivo tendo sido definida desde 2007 uma estratégia de inovação que conduziu ao Plano Es- tratégico Europeu para as Tecnologias Energéticas (SET Plan). Em paralelo no âmbito da Agência Internacional de Energia (AIE) foi desenvolvido um acordo de cooperação internacional denominado Industrial Energy-Related Technologies and Systems (IETS). Este surge por fusão de anteriores acordos (Process Integration and Pulp&Paper) que desenvolviam ativi- dades de divulgação de tecnologia no âmbito da Agência Internacional de Energia. Este acordo desenvolve a sua atividade principal na criação de grupos de trabalho internacionais temáticos (Anexos), juntando representantes de vários países que analisam os aspetos significativos para elaboração de relatórios de estado de arte e dos resultados das aplicações industriais mais relevantes na área.

2.1 Plano Estratégico Europeu para as Tecnologias Energéticas

A Europa adotou uma abordagem estratégica da inovação desde 2007 [CoM (2007)1 - An Energy Policy for Europe], e identificou as prioridades que foram disponibilizadas através do Plano Estratégico Europeu para as Tecnologias Ener- géticas , com o objetivo de acelerar a transição energética. Em setembro de 2015, a “SET Plan Communication” aborda o sistema energético Europeu como um todo e, ultrapassando a arquitetura compartimentada dominante de “silos tec- nológicos”, define 10 Ações-Chave prioritárias a nível da união Europeia em Investigação, Inovação e Competitividade (https://setis.ec.europa.eu/):

  • Ação 1: Sustentar a liderança tecnológica através do desenvolvimento de tecnologias renováveis de elevado desempenho e da sua integração no sistema energético da UE;
  • Ação 2: Reduzir o custo das tecnologias-chave;
  • Ação 3: Desenvolver tecnologias e serviços para habitações inteligentes que forneçam soluções inteligentes aos consumidores de energia;
  • Ação 4: Aumentar a resiliência, segurança e inteligência do sistema energético;
  • Ação 5: Desenvolver novos materiais e tecnologias para soluções de eficiência energética dos edifícios, bem como a sua adoção pelo mercado;
  • Ação 6: Prosseguir os esforços para tornar a indústria da UE menos intensiva em energia e mais competitiva;
  • Ação 7: Aumentar a competitividade no setor global de baterias para impulsionar a e-mobilidade;
  • Ação 8: Fortalecer a adoção no mercado dos combustíveis renováveis necessários para soluções de transporte sustentável;
  • Ação 9: Intensificar as atividades de investigação e inovação em captura e armazenagem de carbono (Carbon Capture and Storage - CCS) e na viabilidade comercial da captura e utilização de carbono (Carbon Capture and Utilization - CCU);
  • Ação 10: Manter um elevado nível de segurança dos reatores nucleares e dos ciclos associados de combustível durante a operação e desmantelamento, melhorando simultaneamente a sua eficiência

Desde então, por via de um processo participativo, os governos nacionais, a indústria e os atores da investigação, desenvolvimento e inovação, envolvendo organizações representativas de 16.700 entidades, estabeleceram objetivos ambiciosos de I&I em cada uma daquelas 10 ações prioritárias. O objetivo global é acelerar a descarbonização dos sistemas energéticos, tornando as tecnologias mais rentáveis e com melhor desempenho.

O Programa-Quadro da União Europeia para a I&I (Horizonte 2020), atingiu em 2014 o financiamento de 1,1 mil milhões de euros, destinado a tecnologias de baixo carbono. No mesmo ano, o investimento público com origem em programas de investigação e desenvolvimento (I&D) ascendeu aproximadamente a 4,2 mil milhões de euros. Excluindo os investimentos da UE no Programa Horizonte 2020, o investimento total da UE-28 nas prioridades de I&I ascenderam em 2014 a 27 mil milhões de euros, sendo que o investimento do setor privado representou 85% do investimento total neste ano. No caso do investimento do setor público, o enfoque dos programas nacionais deslocou-se para tópicos relacionados com os sistemas energéticos integrados e inteligentes – a única prioridade em I&I da União Europeia para a Energia onde o investimento público aumentou.

No âmbito das 10 Ações-Chave prioritárias, as Ações 5&6 do “SET Plan” abordam a eficiência energética nos setores dos edifícios e da indústria, respetivamente. No âmbito da Ação 5, há um enfoque nos novos materiais, tecnologias e processos de construção e renovação para melhor desempenho energético do sistema, bem como um enfoque transversal dedicado às tecnologias de aquecimento e arrefecimento. A Ação 6, por seu turno, aborda a eficiência energética na indústria, sob os pontos de vista setorial e transversal face a um conjunto de prioridades pré-identificadas

SET Plan - Ação 5 (Eficiência Energética em Edifícios)

a) Desenvolvimentos tecnológicos e materiais

Estes desenvolvimentos representam uma oportunidade para promover uma maior eficiência energética nos edifícios, oferecendo soluções novas/melhoradas que respondam às necessidades do mercado. Como objetivos acordados com os stakeholders (setembro de 2016) identificaram-se ações de I&I tendo os seguintes objetivos principais:

  1. Posição de liderança na renovação das principais tipologias de edifícios existentes na Europa, com soluções de remodelação integradas e ambiciosas para edifícios (residenciais e não residenciais);
  2. Redução dos custos de construção e manutenção de edifícios NZEB (Nearly Zero-Energy Buildings);
  3. Operacionalização da reabilitação energética em edifícios de forma menos onerosa e disruptiva para os ocupantes;
  4. Resolução da lacuna existente entre desempenho energético previsto e medido em edifícios novos e reabilitados. 

As iniciativas de operacionalização da Ação 5 tinham em consideração:

  • Desenvolver um plano de implementação detalhado a curto prazo, para suportar aquelas metas até 2025;
  • Determinar ações conjuntas e/ou coordenadas;
  • Identificar as formas como os programas comunitários e nacionais de investigação e inovação poderiam contribuir de forma mais útil para complementar outros esforços de I&I; 
  • Identificar as contribuições do setor privado, organizações de pesquisa e universidades;
  • Identificar todas as questões de natureza tecnológica, socioeconómica, regulamentar ou outra que possam ser relevantes para a consecução das metas e informar regularmente sobre os progressos realizados com o objetivo de monitorizar o cumprimento dos objetivos e de tomar medidas corretivas sempre que necessário.

O plano detalhado de implementação até 2025 para o suporte daquelas metas considera:

  • Ações conjuntas e coordenadas;
  • Identificação de esforços concertados comunitários e nacionais em I&I;
  • Identificação das contribuições do setor privado, das universidades e de outras organizações de I&D;
  • Identificação das questões de natureza tecnológica, socioeconómica, regulamentar ou outra, os quais possam ter relevo para as metas, para o acompanhamento dos progressos alcançados, e para medidas corretivas.

b) Aquecimento e arrefecimento

Tal como referido na Estratégia UE para o Aquecimento e Arrefecimento - COM (2016) 51 final, o aquecimento e o arrefecimento (A&A) são responsáveis por 51% do consumo final de energia da UE. Consequentemente, uma maior penetração das tecnologias renováveis no setor do A&A é crucial para que a UE cumpra os seus objetivos de renovação energética e de redução de CO2 . A UE está a progredir no sentido do cumprimento da meta de 20% nas FER e do objetivo de 20% em eficiência energética fixado para 2020. Os últimos dados disponíveis do Eurostat (2014) forneciam uma quota em FER de 16% na UE, sendo de 5,9% a penetração nos transportes, de 27,5% no setor elétrico, e de 17,7% no setor A&A. 

As metas da tecnologia até 2025 são as seguintes:

  1. Nas bombas de calor:
    1. Reduzir em 50% os custos em equipamentos e instalação na próxima geração de bombas de calor de pequeno e grande porte, quando comparado com os preços de mercado em 2015;
    2. Desenvolver sistemas pré-fabricados “plug-and-play” totalmente integrados e rentáveis;
  2. No A&A em áreas urbanas:
    1. Aumentar a percentagem em energia renovável e em calor recuperado para 25% nas redes urbanas, sem comprometer a qualidade do serviço prestado aos consumidores;
    2. Diminuir 15% do custo de referência das subestações nas redes A&A para edifícios residenciais, em relação aos preços de 2015;
  3. No armazenamento de energia térmica:
    1. Melhorar em 25% o desempenho - em termos de eficiência energética, vida útil do sistema, da armazenagem de energia acima do solo e subterrânea, em relação a 2015;
    2. Aumentar em 200% a densidade de armazenamento ao nível do sistema, tendo por refêrencia o estado-da-arte de 60 kWh / m3.

Nas etapas subsequentes faz-se o acompanhamento e elaboração de relatórios com base na análise dos resultados de I&I e preparação de um estudo de mercado.

SET Plan - Ação 6 (Eficiência Energética na Indústria)

Em 2013, o setor industrial representou 25,1% do consumo final total de energia na UE-28. A energia na indústria é usada principalmente para aquecimento e arrefecimento de processos, o que representa cerca de 63% da procura total de energia final na Indústria. A I&I em eficiência energética industrial é necessária para garantir que a indústria contribui para as metas no âmbito do combate às alterações climáticas, e melhore a sua competitividade nas exportações a partir da diferenciação tecnológica para a economia de energia. É dado um destaque particular às tecnologias setoriais, e às tecnologias transversais. 

a) Objetivos das tecnologias setoriais:

  1. Pelo menos 1/3 das economias potenciais em energia relacionadas com as tecnologias específicas do setor, identificadas para os setores do “Ferro & Aço” e da “Química & Farmacêutica”, se tornem economicamente viáveis até 2030 (período de retorno <= 3 anos);
  2. 1/3 das tecnologias emergentes promissoras estejam em 2030 demonstradas com sucesso a larga escala, ou seja, níveis de maturidade tecnológica (Technology Readiness Level - TRL) superiores a 8. 

b) Objetivos das tecnologias transversais:

  1. Até 2025 desenvolver e demonstrar até um TRL 8, soluções rentáveis para a recuperação de calor/frio perdido (p. ex., permutadores de calor, upgrade para temperaturas mais elevadas, armazenamento, distribuição, conversão de calor em energia, e de calor em frio, e de eletricidade em calor);
  2. Até 2025, desenvolver e demonstrar (até TRL 8) componentes industriais com redução de perdas em 15% (p. ex. caldeiras, secadores, bombas, compressores, ventiladores, transportadores – sistemas estes dependendo de motores e sistemas de transmissão);
  3. Até 2025, desenvolver e demonstrar soluções que permitam às pequenas e grandes indústrias reduzir o seu consumo de energia em 20%, e que procurem reduzir proporcionalmente as emissões de GEE.

Nas etapas de seguimento desenvolve-se um plano de implementação detalhado para cumprir estes objetivos de I&I. É dada atenção particular às iniciativas seguintes:

  • Identificar ações conjuntas/coordenadas e formas em que os programas comunitários e nacionais de I&I podem contribuir;
  • Identificar as contribuições do setor privado, da universidade e de organizações de I&D;
  • Identificar as questões de natureza tecnológica, socioeconómica, regulamentar ou outra que sejam relevantes para se atingirem os objetivos;
  • Acompanhar e informar regularmente sobre os progressos realizados, e tomar medidas corretivas quando necessário.

2.2 Tecnologias e Sistemas Industriais Relacionados com Energia AIE/IETS

Em 2005, foi criado um acordo de cooperação internacional denominado Industrial Energy-Related Technologies and Systems. Este surge por fusão de anteriores acordos (Process Integration and Pulp&Paper) que desenvolviam atividades de divulgação tecnológica no âmbito da Agência Internacional de Energia.

O IETS tem como objetivo promover a cooperação internacional para a investigação e desenvolvimento tecnológico de sistemas relacionados com o uso final da energia utilizada em processos industriais.

Em novembro de 2013, foram definidas cinco áreas de interesse, para o desenvolvimento de atividades: materiais; tecnologias de separação; motores e sistemas associados; fornalhas e caldeiras; captura e armazenamento de CO2.

Atualmente são dez os países membros do IETS: Alemanha, Áustria, Bélgica, Coreia do Sul, Dinamarca, EUA, Holanda, Noruega, Portugal e Suécia.

O IETS desenvolve a sua atividade em termos de sistematização e divulgação de conhecimento tecnológico através de grupos de trabalho internacionais designados por Anexos. Os Anexos mais recentes estão listados em seguida, sendo que alguns deles já apresentaram o seu relatório final que está disponivel no website do IETS.

Assim, informação complementar pode ser encontrada no website do IETS, nomeadamente o relatório de atividades de 2015.

2.2.1 Anexo IX - Sistemas de Separação

Nas indústrias de processo, os sistemas de separação são o maior responsável pelo consumo de energia. Chegam a ser responsáveis por 45% de energia consumida pela indústria química e refinação de petróleo. Por isso, tecnologias e sistemas de separação de maior eficiência energética são fatores críticos na sustentabilidade a longo prazo da indústria e da respetiva competitividade.

Este Anexo focou-se na descrição de “sistemas” com atividades de separação. O Anexo diz respeito a processos que utilizam uma ou mais formas de energia, tais como térmica, química ou elétrica, para isolar e/ou recombinar componentes selecionados de um conjunto inicial de materiais ou misturas para produzir um produto final útil e melhorado com uma pegada ambiental aceitável. Além da divulgação e discussão do trabalho e resultados do Anexo, foram delineadas quatro tarefas no Anexo IX:

  • Visão geral do mercado e barreiras para aplicação das tecnologias;
  • Conceção, operação e metodologias para sistemas de separação;
  • As melhores tecnologias e áreas de aplicação;
  • Eficiência energética e métricas de sustentabilidade

Os principais resultados obtidos na finalização deste Anexo em 2013 são os seguintes:

  1. Em 2009, a indústria química consome 19% da energia total na Europa, sendo 40-60% desta energia utilizada em separações que usam energia térmica. Cerca de 95% da energia térmica necessária nas unidades de separação é utilizada na destilação;
  2. Espera-se que o tipo de recurso energético utilizado afete a escolha das tecnologias de separação utilizadas na indústria, desde a destilação até à adsorção por Pressure-Swing;
  3. A alteração das matérias-primas (baseadas em biomassa) para a produção de químicos pode conduzir a sistemas mais diluídos, pelo que é provável que resulte num aumento do excesso de calor de baixa temperatura. Este exige um acentuado desenvolvimento tecnológico para a sua recuperação e reutilização;
  4. Estão disponíveis as melhores práticas para a conceção e operação de sistemas de separação. No entanto, os métodos avançados de otimização dos processos de engenharia química utilizados amplamente em indústrias petroquímicas são recomendados para outros setores industriais, em especial no setor alimentar e nas indústrias bio-farmacêuticas;
  5. A conceção ótima das tecnologias de separação não significa nada, se a sua implementação na prática não for feita adequadamente. A revisão regular, manutenção e ajuste do sistema de controle e automação em operação são necessários e altamente recomendados;
  6. Uma rede intersetorial de fornecedores de tecnologia e benchmarking específicos pode contribuir para identificar e adaptar as melhores tecnologias de separação e a sua operação em várias indústrias.

O coordenador deste Anexo foi o Dr. Gürkan Sin sendo que o relatório pode ser encontrado em: http://www.iea-industry.org/ongoing-annexes/annex-09.html.

2.2.2 Anexo XI - Indústria Baseada em Biorrefinarias

O Anexo XI (http://www.iea-industry.org/ongoing-annexes/annex-11.html) tem uma abordagem multidisciplinar sobre o conceito de biorrefinarias integradas em complexos industriais, com o objetivo da otimização energética em termos globais. Esta abordagem tem como base as necessidades da indústria, através da tecnologia aliada com a eficiência energética e com os processos de conversão de biomassa, de forma a obter energia e/ou biomateriais.

Tem como objetivo a partilha de conhecimentos e experiências, bem como a realização de estudos de avaliação baseados em projetos de I&DT para promover o conceito das biorrefinarias e a sua utilização prática em todos os países membros do IETS.

A coordenadora deste Anexo é a Dra. Isabel Cabrita.

2.2.3 Anexo XIII – Aplicações de Bombas de Calor Industriais

As bombas de calor são sistemas de recuperação de calor que aumentam a temperatura do calor residual de um processo industrial, de forma que essas correntes possam voltar a ser usadas no mesmo processo ou num processo adjacente. O objetivo deste Anexo tem sido o de reduzir o consumo de energia e as emissões de gases de efeito de estufa através de uma maior utilização de bombas de calor na indústria.

O Anexo XIII teve início a 1 de abril de 2010 e terminou a 30 de abril de 2014, com 15 organizações participantes da Áustria, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Japão, Holanda, Coreia do Sul e Suécia.

O Anexo foi desenvolvido em cinco tarefas e as principais conclusões apontadas neste relatório podem ser resumidas no seguinte:

Foi demonstrado que, em muitas empresas e especialmente nas PME, a informação sobre o consumo de energia térmica real disponível é muito escassa e aparece de forma agregada. Para obter os dados desagregados, tais como o consumo de processos individuais e subprocessos, estes têm de ser estimados ou determinados através de medições com elevados custos, o que muitas vezes requer a integração de vários processos em diferentes níveis de temperatura e com diferentes horários de funcionamento.

A exploração dos potenciais de recuperação de calor existentes exige frequentemente a combinação de diferentes tecnologias disponíveis para obter soluções ótimas.

A Tarefa 1 resumiu a atual situação energética em geral e o consumo de energia, bem como o mercado de bombas de calor com ele relacionado nos países participantes. Sobre estas informações, será dada prioridade ao trabalho futuro para enfrentar os desafios de aplicação mais alargada das tecnologias industriais de bombagem de calor.

Embora as bombas de calor para uso industrial tenham sido disponibilizadas nos mercados nos últimos anos, muito poucas aplicações concretas podem ser encontradas.

As principais dificuldades à aplicação em bombas de calor podem ser resumidas no seguinte: 1) falta de conhecimento; 2) baixa consciência do consumo de calor nas empresas; 3) longo tempo de retorno do investimento; 4) alta temperatura exigida para as aplicações.

Estas barreiras podem ser ultrapassadas, como demonstrado nos resultados do Anexo: o tempo de retorno é curto, em geral são possíveis soluções com menos de 2 anos; obtém-se alta redução das emissões de CO2 (em alguns casos superiores a 50%), temperaturas superiores a 100 °C são possíveis e temperaturas de alimentação <100 °C são habituais.

A Tarefa 2 analizou a utilização de software para a integração de bombas de calor industriais nos processos.

O estado da arte, bem como as necessidades industriais apresentadas pelos organismos de investigação, grandes empresas, e consultores de energia devem ser revistas criticamente. A conclusão do Anexo é que a aplicação de métodos de otimização gerais é limitada a um número bastante pequeno de grupos de investigação e grupos altamente especializados dentro de grandes empresas. Em geral deve-se considerar a tese de H.C. Becker 19 como referência importante uma vez que apresenta uma metodologia sistemática, baseada na análise do ponto de estrangulamento e em técnicas de integração de bombas de calor em processos industriais.

A Tarefa 3 pretendeu identificar no setor industrial bombas de calor como uma tecnologia de utilização de calor residual de forma eficaz e ambientalmente aceitável. Como o calor residual industrial disponível a baixas temperaturas representa cerca de 25% da energia utilizada pela indústria de transformação, o trabalho de I&D tem de ser centrado em bombas de calor capazes de recuperar calor a temperaturas relativamente baixas, geralmente entre 5 °C e 35 °C para, entre outros, o fornecimento de água quente, pré-aquecimento da alimentação de ar, aquecimento de água quente circulante e vapor a temperaturas iguais ou superiores a 100 °C.

Alguns desenvolvimentos recentes empregando bombas de calor industrial utilizando R-134a, R-245fa, R-717, R-744, Hidrocarbonetos (HCs), etc., foram obtidos recentemente. Contudo, com exceção do R-744, R-717 e dos HCs que são refrigerantes naturais com um efeito potencial de aquecimento global (GWP) extremamente baixo, os fluidos R-134a e R-245fa têm valores de GWP elevados. O uso destes últimos deverá ser muito regulado tendo em vista a prevenção do aquecimento global. Portanto, o desenvolvimento de refrigerantes alternativos com baixo GWP é uma área de investigação premente.

O relatório final deste anexo pode ser obtido em http://www.iea-industry.org/ongoing-annexes/annex-13.html.

O coordenador deste Anexo foi o Dr. Hans-Jürgen Laue. 

2.2.4 Anexo XIV - Integração de Processos na Indústria do Aço e do Ferro

É desejável que o excesso de calor gerado a partir da própria indústria seja utilizado na produção de um determinado produto, diminuindo também a poluição térmica. O objetivo do Anexo XIV é o de reduzir o consumo de energia bem como as emissões de gases de efeito de estufa na indústria siderúrgica através da:

  1. Criação de uma rede de especialistas sobre projetos na indústria siderúrgica e do uso de métodos de integração de processos;
  2. Partilha de conhecimento para otimizar os sistemas em relação à energia e emissões de gases de efeito de estufa;
  3. Criação de normas para a aplicação de métodos de integração de processos na indústria.

Para os processos da indústria siderúrgica, a modelação matemática é uma técnica adequada para lidar com as complexas interações materiais e energéticas. A análise exergética e a integração de processos (Análise do Ponto de Estrangulamento) são adequadas para analisar as possibilidades de recuperação de calor. Os modelos foram desenvolvidos em diferentes organizações. Esta associação entre indústria, universidades e institutos, facilitou o desenvolvimento/inovação para melhorar
a eficiência dos recursos da indústria.

Como a integração de processos é um campo emergente no setor siderúrgico, são necessários esforços para educar o pessoal e promover a aceitação e implementação desta metodologia. Embora existam vários bons exemplos de aplicações industriais, são ainda insuficientes os relatórios de histórias de sucesso.

Este é o primeiro Anexo focado na indústria siderúrgica e foi dividido em três tarefas:

Tarefa 1 – Métodos e Ferramentas

Coordenador da tarefa: Henrik Saxén, Universidade Åbo Akademi, Finlândia.

As três principais características dos métodos de integração de processo são o uso de heurísticas (insight), sobre design e
economia, o uso da termodinâmica e o uso de técnicas de otimização. Existe uma sobreposição significativa entre os vários
métodos e a tendência atual é fortemente orientada para métodos usando todos os três recursos mencionados acima. A
finalidade desta primeira tarefa é a de coletar e reunir informações de métodos (p. ex., Análise do Ponto de Estrangulamento, programação matemática, exergia, análise hierárquica, métodos de busca estocástica, etc.), para modelação e análise das
ferramentas disponíveis que são utilizadas, ou podem potencialmente ser utilizadas, para otimizar a indústria siderúrgica ou
outras indústrias metalúrgicas.

Tarefa 2 – Eficiência energética

Coordenador da tarefa: Marianne Viart, I&D da ArcelorMittal, França.

A utilização eficiente da energia é um objetivo fundamental do Anexo. Atualmente, a energia representa cerca de 20% do custo total de produção de aço. O aumento do custo da energia e mesmo a sua disponibilidade atual e futura levaram à necessidade de reorientar a atenção para a intensidade energética na produção de ferro e aço. Os desenvolvimentos do processo que visam a economia de energia incluem a eliminação da aglomeração de minérios e a formação de coque. A integração de processos oferece ferramentas poderosas para análise de processos novos ou modificados. Existem perdas de energia nos sistemas industriais de hoje que podem ser minimizadas através de:

  • Utilização eficiente de gases de processo e minimização de flares;
  • Utilização eficiente do calor residual através da interação com a sociedade (calor, arrefecimento, geração de eletricidade, etc.), ou integração com outras indústrias;
  • Possibilidade de utilizar fontes de calor de baixa temperatura a serem recicladas internamente /ou a gerar um produto útil (produção de eletricidade e/ou calor através de ciclos de Rankine ou outras técnicas).

Tarefa 3 – Redução de gases de efeito estufa

Coordenador da tarefa: Habib Zughbi, BlueScope Steel, Austrália.

A produção de aço gera emissões de GEE direta e indiretamente. Por exemplo, o processo do alto-forno produz CO2 ao transformar coque e minério de ferro em aço. Além disso, todas as unidades consomem quantidades significativas de eletricidade, cuja geração resulta muitas vezes em emissões de GEE. A nível internacional, a indústria siderúrgica estabeleceu o Programa de Descoberta de CO2 para financiar o desenvolvimento de novas tecnologias siderúrgicas que não emitem CO2,
e/ou que capturam e sequestram CO2.

A principal atenção no Anexo será a mitigação de GEE com as tecnologias já existentes, através da racionalização dos sistemas de produção, e da utilização de agentes redutores alternativos na produção de ferro, pela utilização de combustíveis alternativos para fins de aquecimento nos processos de produção e pós-tratamento e/ou por sistemas de processos de apoio mais eficientes.

O principal meio de colaboração entre os vários participantes surgiu durante os três workshops que ocorreram na Alemanha, Suécia e Japão.

Assim, as conclusões específicas deste Anexo podem ser resumidas:

  • Os modelos estáticos do site industrial são desenvolvidos em detalhe permitindo uma modelação de cenários. Por exemplo uma alteração numa unidade possibilita a análise das suas consequências no site total;
  • As ferramentas padrão da indústria para modelação dos processos metalúrgicos são inexistentes;
  • A falta de interconetividade dos modelos irá inibir a cooperação entre as partes interessadas;
  • Os métodos são mais elaborados para análise estratégica, e não para a otimização no dia-a-dia das unidades industriais;
  • A otimização do uso de energia requer mais desenvolvimento do método, da modelação em tempo real e da modelação dinâmica;
  • Os modelos de site e de processo podem ser desenvolvidos e utilizados como ferramentas de treino de operadores;
  • A aceitação dos modelos e resultados de modelos são obstáculos importantes para uma implementação bem-sucedida.

O coordenador deste Anexo foi o Dr. Lawrence Hooney e informações adicionais podem ser encontradas em http://www.iea-industry.org/ongoing-annexes/annex-14.html.

2.2.5 Anexo XV - Recuperação do Calor Industrial em Excesso

A energia industrial é responsável por um terço do total da energia utilizada na sociedade. Por isso, as atividades que promovem o uso eficiente de energia com baixo impacto ambiental serão cruciais para o desenvolvimento, implementação e sustentabilidade destes processos industriais. Para isso é necessário, nomeadamente, tentar otimizar os processos para aproveitar correntes entálpicas oriundas doutras zonas processuais e que estejam ainda a ser desperdiçadas.

Este Anexo aborda as necessidades da indústria, combinando o conhecimento tecnológico industrial com a eficiência energética e otimização do binómio custo-eficiência.

O relatório da primeira tarefa pode ser obtido em http://www.iea-industry.org/ongoing-annexes/annex-15.html.

O coordenador deste Anexo é o Dr. Thore Berntsson.

2.2.6 Anexo XVI – Eficiência Energética em PME’s

O objetivo deste Anexo é o de analisar os sistemas de energia e promover os fatores que contribuam para uma maior eficiência energética nas pequenas e médias empresas industriais. As áreas específicas de estudo são: desenvolver políticas e programas para as PME’s; desenvolver tecnologias de eficiência energética; desenvolver auditorias e boas práticas de gestão de energia.

O Anexo XVI foi dividido em quatro tarefas, onde se destacam as seguintes conclusões:

Apesar de o uso de energia global pelas PME’s ser consideravelmente inferior ao de indústrias maiores ou mais intensivas, o impacto económico das PME’s é de grande relevância para um país. Para além disso, a rentabilidade das medidas de política de utilização final de energia entre as PME’s industriais é muitas vezes elevada, em comparação com as grandes empresas que muitas vezes implementem medidas de baixo custo, uma vez que têm capacidade de gestão suficiente.

A implementação de políticas de uso final de energia deve ser visto pelas PME’s não só como uma tentativa de melhorar a sua eficiência energética, mas também como a aquisição de vantagens competitivas que apoiem a empresa na sua sobrevivência e sucesso a longo prazo. Para isso torna-se essencial a existência de informação detalhada dos consumos do processo, algo que não é muito frequente neste tipo de indústrias.

A Tarefa 1 descreve o contexto energético dos países alvos de estudo e das políticas e programas implementados para as PME’s.

A Tarefa 2 faz uma análise da energia utilizada pelas PME’s e da sua localização no processo de produção, compara os potenciais de eficiência energética através de auditorias energéticas ou de propostas de melhoria com exemplos concretos sobre os locais onde a eficiência pode ser melhorada. Por fim, faz uma visão geral dos principais obstáculos à eficiência energética nas PME’s industriais com base nesses exemplos.

A Tarefa 3 sugere métodos e ferramentas para auditorias técnicas e implementação de práticas de gestão energética, assim como uma descrição das tecnologias emergentes e de integração de processos, para tornar a utilização de energia mais eficiente, usando casos de estudo.

A Tarefa 4 dá uma visão geral dos modelos de negócio e ofertas de serviços de energia por empresas de consultoria, empresas de utilidades e ESCOs (Energy Service Company) com exemplos práticos das tecnologias implementadas.

O coordenador deste Anexo foi o Prof. Patrik Thollander e informação complementar pode ser obtida em http://www.iea-industry.org/ongoing-annexes/annex-16.html.

    Capítulo 2 Iniciativas Internacionais para a Eficiência Energética
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